Como se tratasse de um aniversário de uma pessoa - aqueles em que se faz uma festa e se convidam os amigos - os X-Wife chamaram a palco a deolinda Ana Bacalhau, o tigre lendário Paulo Furtado, o senhor das guitarras Tó Trips e o metronómico André Tentúgal. Ao longo de uma das noites mais quentes do ano, ainda mais quente para quem estava no TMN Ao Vivo, foram desfilando todos os singles da carreira da banda de João Vieira e companhia, com os trunfos "On The Radio" e "Rockin' Rio" a serem guardados para o fim, deixando ainda espaço para a apresentação do inédito "Retaliate". Pela sala, que em alguns momentos se transformou em pista de dança, o público reagia efusivamente ás suas preferidas: assinalam-se "Fireworks" e "Keep On Dancing", entre muitos pontos altos. Venham mais 10!
segunda-feira, 11 de junho de 2012
Reportagem: X-Wife, 10 Anos Depois
Como se tratasse de um aniversário de uma pessoa - aqueles em que se faz uma festa e se convidam os amigos - os X-Wife chamaram a palco a deolinda Ana Bacalhau, o tigre lendário Paulo Furtado, o senhor das guitarras Tó Trips e o metronómico André Tentúgal. Ao longo de uma das noites mais quentes do ano, ainda mais quente para quem estava no TMN Ao Vivo, foram desfilando todos os singles da carreira da banda de João Vieira e companhia, com os trunfos "On The Radio" e "Rockin' Rio" a serem guardados para o fim, deixando ainda espaço para a apresentação do inédito "Retaliate". Pela sala, que em alguns momentos se transformou em pista de dança, o público reagia efusivamente ás suas preferidas: assinalam-se "Fireworks" e "Keep On Dancing", entre muitos pontos altos. Venham mais 10!
Crónica: O Segredo dos Xutos & Pontapés
sábado, 26 de maio de 2012
As portas já abriram para o segundo dia do Rock in Rio. Depois da passagem dos maiores nomes do metal no primeiro dia, hoje esperam-se 80 mil pessoas. Com os Linkin Park, Limp Bizkit, The Offspring e Smashing Pumpkins no palco principal , promete ser um dia forte, cheio de bons concertos e surpresas.
No palco Sunset continuam com a grandes bandas, destaco os portugues Xutos e Pontapés, Titãs e Rita RedShoes.
A animação continuará pela noite fora na tenda electrónica com os canadianos AZARI & III a encerrarem a primeira parte deste festival.
Quem vem á Cidade do Rock Hoje?
Eu Vou e Vocês?
Muito heavy metal, guitarradas e vozes loucas, deram um grande espectáculo ao pôr-do-sol, focado no último trabalho.
Um concerto curto mas muito intenso que não desiludiu os fãs de Mastodon...
A banda sentia-se confortável no palco, adoram Lisboa,e Ela os Metallica, com clássicos como "The Unforgiven" e "Enter Sandman" levaram os fãs ao rubro, mesmo na famosa balada "Nothing Else Matters" a multidão gritava em plenos pulmões!
Com direito a fogo-de-artificio e bolas saltitonas gigantes nada os fazia abandonar o palco e dedicando a última música à "família Metallica portuguesa" fizeram um adeus sentido e demorado!
Um concerto monstroso, cheio de energia a que já fomos habituados!
Finalizaram com a Bring Me To Life, o que levou os espectadores ao rubro. Um concerto cheio de sucessos e com um som bem mais pesado do que o habitual.
Esperemos que nao demorem mais oito anos a voltar a Portugal!
Com milhares de fãs a assistirem, abriram o palco Mundo mostrando todo o poder do metal. Apresentaram o seu último álbum Kairos, juntamente com os tambores frenéticos dos seus convidados.
Vista por muitos como a banda brasileira mais bem sucedida a nível internacional, voltaram ao festival para um grande concerto ao som das latas gigantes, contagiando o público com a sua energia.
Com menos de 1h de concerto, provaram que a mistura entre as duas bandas resultou na perfeição, e a prova disso foi a multidão que pulou sem parar...
A eles, juntaram-se Pedro Laginha dos Mundo Cão e o escritor Valter Hugo Mãe que perante uma plateia cheia deram um grande concerto de abertura na lingua de camões.
ROCK IN RIO 2012
Metallica,Stevie Wonder,Ivete Sangalo,Maroon5 e Bruce Springsteen são apenas alguns dos gigantes da música mundial que poderá assistir...
Sol,pessoas,dançar,pular,rir,cantar, grandes concertos e muitas outras atracções...
SEJAM BEM VINDOS À CIDADE DO ROCK!
Eu vou e vocês?
sexta-feira, 18 de maio de 2012
Zé Pedro
Essa oportunidade aconteceu no passado dia 16 de Maio, num encontro organizado pela ETIC e moderado por Rui Miguel Abreu. Os moldes da conversa foram definidos logo aos primeiros minutos: enquanto Rui Miguel Abreu pedia aos presentes para se chegarem mais para a frente, Zé Pedro pegou na mesa que fazia de barreira entre "artista convidado" e "público" e afastou-a para o lado. Neste clima de proximidade, muitas histórias foram contadas: os dias em que começou como jornalista de música, a formação da banda, os altos e baixos num percurso já com 33 anos, até mesmo o nascimento do punk e do grunge.
Mas é da energia deste homem que não me vou esquecer. Zé Pedro sente-se profundamente grato por fazer aquilo que o apaixona e por pertencer à banda mais acarinhada pelos portugueses. Por isso, faz questão de responder pessoalmente ao email de um miúdo de 10 anos, carregado de perguntas para os Xutos. Acredita que a música só faz sentido enquanto processo de dar e receber. «Um músico, quando sobe ao palco, é um fio condutor. Temos de retribuir a energia que estamos a receber do público com o nosso empenho - nem que seja para uma plateia de cinco pessoas. Um artista que não consegue retribuir isso fica tonto, megalómano, egoísta.» Acredita que a arte é saudável quando esse fio condutor se liga também a outros artistas - sejam eles músicos, jovens designers ou profissionais de video.
Recorda-se da primeira coisa em que pensou, quando acordou depois da cirurgia: «em 15 dias ponho-me bom e consigo estar no Optimus Alive». E isto embora os médicos estimassem um recobro de 3 semanas. A paixão alimentou-lhe o corpo e deu-lhe alta, a tempo de subir ao palco do Passeio Marítimo de Algés. Trinta mil pessoas a aplaudirem à sua frente, «um baque» e a emoção que o fez chorar, a si e aos seus colegas.
A dada altura, pedi a sua opinião acerca do estado do jornalismo musical em Portugal. Esperava críticas sobre o que não temos. Recebi elogios sobre o que temos. Perante um copo meio vazio, Zé Pedro vê um copo meio cheio. E eu vejo uma lição de vida.
Crónica: Negócios com o Tempo
Na noite de sexta-feira, o Coliseu transformou-se em máquina do tempo para toda uma geração que viveu a adolescência nos anos 80. Até para aqueles que eram catraios, mas que, como eu, têm irmãos mais velhos que lhes despertaram o gosto pela música pop e para quem o Top Disco era tão importante como os desenhos animados. O que me levou a concluir: é tramado estar na casa dos 30 e ter a música como a paixão mais antiga. Porque se já estivesse nos 40, muito provavelmente teria assistido à glória da Sétima Legião no Pavilhão Carlos Lopes. Teria sido quase certo um lugar nas primeiras filas do Estádio José Alvalade, a ver David Bowie. Teria rumado a Madrid ou Barcelona e sido esmagado pela monumental Blond Ambition Tour de Madonna. Só que em 1990, ano em que se situam os ditos casos, os meus 13 anos não permitiram tamanhas aventuras. É tramado.
Enquanto a banda de Pedro Oliveira e Rodrigo Leão tocava a sua música e na nossa memória, dei por mim a accionar a imaginação. «Se soubesse o que sei hoje...» e pudesse negociar com o Tempo, estaria entre os que testemunharam o pulsar dançante e revolucionário dos Heróis do Mar, quando em 81 se estrearam no Rock Rendez-Vous. Seria até um nadinha mais ambicioso e rumaria à Londres de 79, para assistir à mítica (e única) digressão de Kate Bush. E não me perdoaria se perdesse a viagem até Nova Iorque, para transpirar na pista no Paradise Garage, com Lerry Levan ali mesmo, na cabine do DJ. Não fui mais atrás, para não trair o sentimento de pertença - neste exercício de evasão vale tudo até 77, ano em que passei a fazer parte desta realidade.
Pois a julgar pelo que aconteceu no mês passado em Coachella, caminhamos a passos largos para converter estes voos - da lembrança ou da imaginação - em coisas "reais". Durante a actuação de Snoop Dogg e Dr. Dre, surgiu em palco um convidado especial: nada mais que Tupac Shakur, o rapper cujo assassinato deixou consternada a comunidade hip hop, corria o ano de 96. Obviamente, era um holograma, mas a audiência ficou algures entre a perplexidade e a comoção. É dado assente que a memória e a "retro-mania" alimentam todo um negócio, que começou de mansinho nas compilações e estações de rádio temáticas. Tornou-se mais engenhoso e invadiu as salas de espectáculo - não foi há muito tempo que o Atlântico recebeu Kim Wilde, os ABC, Nik Kershaw e Belinda Carlisle, todos na mesma noite, num pack nostálgico com o rótulo “Here And Now”. Até aqui, tudo bem. Mas agora, começa a entrar no domínio do bizarro: o negócio da memória quer acordar os mortos.
Diz-se por aí que Tupac, o holograma humano, vai entrar em digressão pelos Estados Unidos. Que é o mesmo que dizer: já vamos poder pagar para ver palcos vazios. Daqui até termos James Brown ou Elvis a dançar na nossa sala, vai um pulinho. É esquisito demais para a minha cabeça. Prefiro a verdade 2D de uma imagem de arquivo. Ou os meus voos imaginários. Ou os Sétima Legião com rugas e cabelos grisalhos, a presentearem-nos com a sua real magia, no palco do Coliseu. Isto sim, pode causar-me arrepios.
Rui Clemente, Maio de 2012
O Dia Em Que Quase Chorei Com O Zé Pedro
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Apontamento: X-Wife - 10 Anos 10 Singles
terça-feira, 15 de maio de 2012
Crítica: Julia Holter - "Ekstasis"
Crítica: Moonface - "With Siinai: Heartbreaking Bravery"
Crítica: The Magnetic Fields - "Love at the Bottom of the Sea"
Crítica: Spoek Mathambo - "Father Creeper"
Crónica: Sétima Legião
Reportagem: Record Store Day - Flur
Etic: "Uh… Olá. Não pude deixar de reparar que estás a ver o Ekstasis da Julia Holter."
Etic: "E o que te trás à Flur num dia como este? E estou a referir-me ao Record Store Day, não ao tempo… (risos)".
Rapaz: "(Mais risos) Venho essencialmente ver, e ouvir o que se passa, as novidades, as não novidades, os descontos."
Etic: "És um caça descontos?"
Rapaz: "Não sou caçador profissional, mas todos gostamos de preços mais interessantes. Agora mais do que nunca."
Etic: "Isso quer dizer que és um comprador de música, ou um "comprador de música"?"
Rapaz: "Todos "compramos música", mas… Não gosto nada dessas coisas do digital, hoje em dia as pessoas esquecem-se um bocado de que a música é também um bem material, não apenas uma manifestação virtual, mas algo que é criado com objectos e pessoas reais, quando assim o é, claro. Comprar o vinil, ou o álbum é para mim muito importante."
Etic: "És apologista de tê-lo nas mãos."
Rapaz: "Sim, sou apologista de tê-lo nas minhas mãos, gosto de sentir o cheiro, a textura. (risos)."
Etic: "Mas tu és aqui de Lisboa? O teu sotaque…"
Rapaz: "Não, não. Vim passar uma temporada com uns amigos meus e decidi que era uma boa oportunidade passar por aqui."
Etic: "E porque estás cá dentro e não lá fora?"
Por esta altura já se ouvia a voz de João Marcelo como Éme.
Rapaz: "Não vou dizer que adoro e ando sempre à procura de bandas portuguesas, gosto de ser surpreendido, mas… Houve uma altura em que estive colado em Moulinex e Xinobi, mas a onda folk da Cafetra não me diz nada."
Rapaz: "Sim, sim. Algo com cheiro e textura. (risos) Tenho os olhos postos no EP de Burial."
Etic: "Boas compras, e um bom resto de dia cheio de música. Como te chamas, já agora?"
Luís: "Sou o Luís, prazer."
"Estou com o cabo no sítio errado. Vou passar à segunda." Assim foi o começo de Éme, e assim foi a disposição crescente deste showcase. Nunca tocando mais do que vinte minutos, Go Suck a Fuck, Smiley Face e Pega Monstro deram-nos a provar da música que tocam. Ouvia-se, degustava-se e ou se gostava, ou não se gostava. Após a actuação de cada um, a malta jovem da Cafetra, alguma mais tímida do que outra, deambulava entre a entrada e as traseiras da Flur. O convívio era tão importante como a música, ora não é isso que o Record Store Day é?
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Crítica: Spoek Mathambo - "Father Creeper"
Crítica: Buckethead - "Electric Sea"
Crítica: Saint Vitus - "Lillie F-65"
Crítica: Joan Osborne - "Bring It On Home"
domingo, 13 de maio de 2012
Crítica: Chromatics - "Kill For Love"
Crítica: The Mars Volta - "Noctourniquet"
Crítica: David Fonseca - "Seasons: Rising"
Crítica: Spoek Mathambo - "Father Creeper"
Sétima Legião, Três Décadas E Mais Uns Êxitos Depois
Uma rápida vista pela enorme mancha de público no Coliseu e contam-se pelos dedos, das mãos e dos pés, o número de jovens que ali foram parar. A grande maioria da legião que para este lugar rumou tem mais de 30 anos. Alguns, poucos, fazem-se acompanhar pelos rebentos. Outros vieram sem os filhos – filhos esses que talvez não tenham chegado a perceber porque é que os Sétima Legião são das mais importantes bandas portuguesas dos últimos 30 anos. Ou então estão naquela fase da adolescência em que refutam as preferências dos pais, mesmo que essas preferências musicais tenham sido influenciadas por uma das mais importantes bandas do século passado, os Joy Division. A verdade é que o conjunto de Manchester é tão importante para a compreensão dos Sétima Legião que à porta do anfiteatro recebi um flyer que indicava que nessa noite teria lugar um tributo a Ian Curtis no Metropolis. Mais uma vez, e a bem da verdade, os Sétima são, até hoje, o maior reflexo do post-punk em Portugal. No entanto, se muitos lhes apontam uma fachada étnica para disfarçar o indisfarçável, a colagem aos Joy Division, enquanto mero espectador, parti para ali sem preconceitos, com os quais já lidei ao ouvir a banda. Sei de antemão que o uso de instrumentos tradicionais da música portuguesa (gaitas-de-foles, bombos, flautas, adufes) foi um episódio despretensioso na história da banda. A introdução de elementos folclóricos trouxe-lhes uma reconhecida portugalidade sem resvalar num nacionalismo fervoroso. Os pontos cardeais dos Sétima Legião são evidentes: Manchester e Minho; e mais umas coisinhas pelo meio. Boa música, portanto.
Está tudo preparado para o começo do concerto. O atraso já é um hábito que não estranho neste tipo de ocasiões e que é aqui aproveitado para que mais gente se arrume na plateia, sentada, tal como eu. Infelizmente. O aumento da ansiedade sente-se no ar e no camarote onde estou. As luzes do Coliseu apagam-se e ainda se vê gente a entrar. No palco, o roxo toma conta do ambiente e começa o concerto. Gritos histéricos levantam-se do público enquanto um dos elementos do grupo entra em cena. Nuno Cruz, a propósito. A entrada é estonteante e o ritmo é dado pelo baterista que acaba de agradecer a paciência e a impaciência do público. “O Baile (Das Sete Partidas)” é ponto de partida para as recordações da grande maioria do Coliseu e partida para a minha primeira vez com os Sétima Legião – salvo seja. Cada um dos elementos da banda entra à vez, recebendo, cada um, um merecido aplauso de boas-vindas. A recepção de Lisboa e dos que àquele espaço se dirigiram não poderia ser maior e é contagiante. Céptico que sou – por ter apenas contacto com a música – também me deixo levar pelo entusiasmo, mas contenho-o. O calor já se sente no Coliseu e a Legião é o combustível.
quinta-feira, 10 de maio de 2012
Crítica: "Father Creeper", Spoek Mathambo
Spoek Mathambo
Father Creeper
Sub-Pop
Em 1994, o Planeta libertava-se de um dos fardos mais constrangedores alguma vez gerados pela mão humana. A queda do Apartheid simbolizou tudo aquilo que sabemos e dela germinaram, também, novos movimentos culturais e novos artistas. A mesma semente cresceu num menino que, aos 10 anos, era fascinado pelo hip hop americano. Dezoito anos depois, Nthato Mokgata responde pelo nome de guerra Spoek Mathambo e lança agora o seu segundo álbum, Father Creeper. Um disco alucinante e fervilhante de géneros - o mesmo fervilhar que agitou a Joanesburgo da sua adolescência. Enérgico e desafiador, capta as electrónicas que agitam o mundo, mas também a herança musical sul-africana. E simboliza um avanço dos tempos: é editado pela Sub-Pop, outrora bastião do rock caucasiano (grunge, alternativo, indie, tudo isso), que agora se rende a novas linguagens: as que definem um mundo que se quer reinventar.
Crítica: Rocket Juice & The Moon
Rocket Juice & The Moon
Rocket Juice & The Moon
Honest Jon's
Pegue-se no impulso explorador de Damon Albarn, junte-se o baixo pujante de Flea e a bateria inconfundível de Tony Allen. O resultado é tão explosivo quanto a fórmula: Rocket Juice & The Moon, nome do projecto e do álbum, é puro funk e afrobeat arrancados da terra e transportados numa viagem espacial de tons psicadélicos. Erykah Badu, o rapper do Gana M.anifest e a cantora do Mali Fatoumata Diawara juntam-se à tripulação do supergrupo, acrescentam-lhe soul, hip hop e alma africana, invocam o espírito de Fela Kuti (Allen foi seu baterista) e dançam na poeira cósmica de Sun Ra. Serve a livre expressão como combustível, entre canções de formato clássico e exercícios instrumentais, em jeito de "jam session". Não parar para escutar este disco é perder uma das propostas mais cativantes do momento.
Crítica: Lisbon Bass
Vários
Lisbon Bass
Adam And Liza
Um disco vai para lá do mero registo sonoro. É um documento que cristaliza um momento da história, contada através da música. A compilação Lisbon Bass é disso exemplo, ao capturar a manifestação local de uma cultura global: a bass music à luz da cidade de Lisboa. A recolha é realizada por Rocky Marsiano (veterano da cena hip hop nacional) e Violet (da dupla de rappers A.M.O.R.). Os ritmos e as linhas de baixo são as variáveis de estudo que, combinadas entre si, incendeiam a pista de dança e reafirmam uma Lisboa multicultural, de cruzamento e miscigenação. Dubstep com kuduro, techno com kizomba, house com drum n bass, dub techno com fado. Quatorze dos melhores produtores lisboetas e um lugar que se reclama no panorama global da electrónica. Um documento valioso para os amantes da música de dança e os cientistas sociais.
Crítica: Nina Kraviz
Enganem-se na suspeita: ela não tem qualquer ligação com Lenny. Nascida na Sibéria e radicada em Moscovo, Nina Kraviz é uma DJ que, nos últimos anos, conquistou lugar no circuito do "clubbing". No escuro da pista de dança e na produção, é dona de uma linguagem intrincada e sensual. A sua assinatura é agora revelada ao mundo, no álbum de estreia homónimo. Olhem para a capa e enganem-se novamente: Nina Kraviz não é mais um daqueles discos de "handbag house" polvilhado de "glitter", mas sim um exercício brilhante de técnica e emoção. Batidas cruas de deep house entrelaçam-se com atmosferas intoxicantes, minimalistas, por vezes sombrias. A sua voz emerge, sussurra, anseia, numa pista de dança quase deserta, onde a confissão oscila entre a urgência luxuriante e o eco fantasmagórico. Das pulsações dançantes ao puro “ambient”, a produção analógica confere a este disco textura e corpo. Vale a pena explorá-lo.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Reportagem: Record Store Day na Flur
Pelo quarto ano consecutivo, o espaço de Santa Apolónia juntou-se às centenas de lojas de discos independentes que, por todo o mundo, celebraram a arte da música. Efectivamente, quem entrou na Flur nesse dia, percebeu que este foi um Sábado atípico: mais pessoas a circular, discos a preços especiais, uma equipa de reportagem da RTP, lançamentos exclusivos (a par do EP de Rodrigo Cotrim, destacou-se a compilação Lisbon Bass) e um programa de concertos.
Finda a partilha de Tó Trips, com o Tejo ao fundo do corredor, a música saiu lá para fora. Na esplanada do restaurante Bica do Sapato, um palco improvisado acolheu o showcase da editora Cafetra. Rock de garagem, irreverência e uma média de idades que (no palco e em quase metade da audiência) não ultrapassava os 20 anos, tomaram conta do espaço com as actuações dos 100 Leio, Ème, Go Suck A Fuck e Smiley Face. Um banho de sangue novo, com alguns pingos de chuva à mistura, que encerrou com a energia contagiante das Pega Monstro (duas irmãs, guitarra e bateria apenas), à qual ninguém ficou indiferente.
A tarde terminou com um sorriso na expressão dos presentes e a sensação de "missão cumprida" por parte de Zé Moura, um dos responsáveis da Flur. "Não fazia a mínima ideia de como ia correr. Com a dita crise, a cada ano que passa, espero cada vez menos." Fosse a crise ou a ameaça de chuva, é certo que a afluência de pessoas este ano foi significativamente menor. "Mesmo assim", refere Zé Moura, "o dia foi muito bom, quanto a vendas. Melhor do que qualquer Sábado normal. Apesar de não ter vindo muita gente, estou muito satisfeito." Uma satisfação que não dependeu apenas dos números, mas essencialmente do espírito que na sua loja se fez sentir: "Notei que, este ano, houve gente mais interessada. Houve mais carinho".
http://www.flur.pt/
http://www.recordstoreday.com/
terça-feira, 24 de abril de 2012
Reportagem: Carbono: Entre Fumo E Discos
Apesar da paixão pela iniciativa Record Store Day, João, entre atendimentos a clientes, refere que este dia em particular não é sinónimo de mais dinheiro em caixa: "é um dia como o Natal, temos mais pessoas na loja, mas estamos a fazer 20 por cento de desconto em quase tudo [vinil, CD, t-shits, DVD], algo que nos vale um lucro quase nulo". Enquanto ao nosso lado vemos clientes da loja a ouvir música através da alguns gira-discos disponibilizados ao balcão, João Moreira pega no jornal Metro para lamentar a cobertura deficiente dos media, "até falam aqui do Record Store Day, mas não referem o programa da Carbono; no entanto, mencionam aqui uma loja em Braga que, por acaso, já fechou". Os dias não são os melhores para o negócio da venda de discos. "Desde que comecei a comprar discos que fecharam muitas lojas em Lisboa, tantas que tenho dificuldade em enumerá-las. E nos últimos anos nem vale a pena falar", acrescenta João Moreira. Se o Record Store Day celebra o vinil enquanto objecto, será que o dono da Carbono sente que a rodela preta está de novo na moda? "Sim, o vinil é moda. Há, de facto, uma procura pelo vinil", apesar de, como sublinha João Moreira, ser "um objecto luxuoso, porque é caro e pouco prático".
O Record Store Day assinala-se de forma ininterrupta há quatro anos nesta discoteca e sempre com iniciativas diferentes. Em 2011, ofereceram-se brindes aos visitantes da Carbono que acertassem nas respostas a algumas perguntas atribuídas num sistema de "rifas com questões relacionadas com música", recorda-nos João Moreira.