Doze anos de
um tempo ausente e depois do Coliseu do Porto, “Esgotado” é a palavra que vejo
estampada nas bilheteiras do Coliseu de Lisboa. O espaço prepara-se para
receber dentro de minutos os regressados Sétima Legião. Em ano de reuniões –
conte-se ainda os Ornatos Violeta –, há também que registar as três décadas de
carreira da banda de Rodrigo Leão e companhia. Já dentro do espaço, confirmo
que à espera do grupo está um Coliseu muito bem recheado. Pedro Oliveira (voz e
guitarra), Rodrigo Leão (baixo e teclas), Nuno Cruz (bateria), Gabriel Gomes
(acordeão e guitarra), Paulo Marinho (gaita de foles, flautas), Ricardo Camacho
(teclas e guitarra) e Paulo Abelho (percussão, samplers), são os nomes de quem em
breve subirá ao palco. Com o peso da idade? Veremos…
Uma rápida vista pela enorme mancha de público no Coliseu e contam-se pelos dedos, das mãos e dos pés, o número de jovens que ali foram parar. A grande maioria da legião que para este lugar rumou tem mais de 30 anos. Alguns, poucos, fazem-se acompanhar pelos rebentos. Outros vieram sem os filhos – filhos esses que talvez não tenham chegado a perceber porque é que os Sétima Legião são das mais importantes bandas portuguesas dos últimos 30 anos. Ou então estão naquela fase da adolescência em que refutam as preferências dos pais, mesmo que essas preferências musicais tenham sido influenciadas por uma das mais importantes bandas do século passado, os Joy Division. A verdade é que o conjunto de Manchester é tão importante para a compreensão dos Sétima Legião que à porta do anfiteatro recebi um flyer que indicava que nessa noite teria lugar um tributo a Ian Curtis no Metropolis. Mais uma vez, e a bem da verdade, os Sétima são, até hoje, o maior reflexo do post-punk em Portugal. No entanto, se muitos lhes apontam uma fachada étnica para disfarçar o indisfarçável, a colagem aos Joy Division, enquanto mero espectador, parti para ali sem preconceitos, com os quais já lidei ao ouvir a banda. Sei de antemão que o uso de instrumentos tradicionais da música portuguesa (gaitas-de-foles, bombos, flautas, adufes) foi um episódio despretensioso na história da banda. A introdução de elementos folclóricos trouxe-lhes uma reconhecida portugalidade sem resvalar num nacionalismo fervoroso. Os pontos cardeais dos Sétima Legião são evidentes: Manchester e Minho; e mais umas coisinhas pelo meio. Boa música, portanto.
Está tudo preparado para o começo do concerto. O atraso já é um hábito que não estranho neste tipo de ocasiões e que é aqui aproveitado para que mais gente se arrume na plateia, sentada, tal como eu. Infelizmente. O aumento da ansiedade sente-se no ar e no camarote onde estou. As luzes do Coliseu apagam-se e ainda se vê gente a entrar. No palco, o roxo toma conta do ambiente e começa o concerto. Gritos histéricos levantam-se do público enquanto um dos elementos do grupo entra em cena. Nuno Cruz, a propósito. A entrada é estonteante e o ritmo é dado pelo baterista que acaba de agradecer a paciência e a impaciência do público. “O Baile (Das Sete Partidas)” é ponto de partida para as recordações da grande maioria do Coliseu e partida para a minha primeira vez com os Sétima Legião – salvo seja. Cada um dos elementos da banda entra à vez, recebendo, cada um, um merecido aplauso de boas-vindas. A recepção de Lisboa e dos que àquele espaço se dirigiram não poderia ser maior e é contagiante. Céptico que sou – por ter apenas contacto com a música – também me deixo levar pelo entusiasmo, mas contenho-o. O calor já se sente no Coliseu e a Legião é o combustível.
Uma rápida vista pela enorme mancha de público no Coliseu e contam-se pelos dedos, das mãos e dos pés, o número de jovens que ali foram parar. A grande maioria da legião que para este lugar rumou tem mais de 30 anos. Alguns, poucos, fazem-se acompanhar pelos rebentos. Outros vieram sem os filhos – filhos esses que talvez não tenham chegado a perceber porque é que os Sétima Legião são das mais importantes bandas portuguesas dos últimos 30 anos. Ou então estão naquela fase da adolescência em que refutam as preferências dos pais, mesmo que essas preferências musicais tenham sido influenciadas por uma das mais importantes bandas do século passado, os Joy Division. A verdade é que o conjunto de Manchester é tão importante para a compreensão dos Sétima Legião que à porta do anfiteatro recebi um flyer que indicava que nessa noite teria lugar um tributo a Ian Curtis no Metropolis. Mais uma vez, e a bem da verdade, os Sétima são, até hoje, o maior reflexo do post-punk em Portugal. No entanto, se muitos lhes apontam uma fachada étnica para disfarçar o indisfarçável, a colagem aos Joy Division, enquanto mero espectador, parti para ali sem preconceitos, com os quais já lidei ao ouvir a banda. Sei de antemão que o uso de instrumentos tradicionais da música portuguesa (gaitas-de-foles, bombos, flautas, adufes) foi um episódio despretensioso na história da banda. A introdução de elementos folclóricos trouxe-lhes uma reconhecida portugalidade sem resvalar num nacionalismo fervoroso. Os pontos cardeais dos Sétima Legião são evidentes: Manchester e Minho; e mais umas coisinhas pelo meio. Boa música, portanto.
Está tudo preparado para o começo do concerto. O atraso já é um hábito que não estranho neste tipo de ocasiões e que é aqui aproveitado para que mais gente se arrume na plateia, sentada, tal como eu. Infelizmente. O aumento da ansiedade sente-se no ar e no camarote onde estou. As luzes do Coliseu apagam-se e ainda se vê gente a entrar. No palco, o roxo toma conta do ambiente e começa o concerto. Gritos histéricos levantam-se do público enquanto um dos elementos do grupo entra em cena. Nuno Cruz, a propósito. A entrada é estonteante e o ritmo é dado pelo baterista que acaba de agradecer a paciência e a impaciência do público. “O Baile (Das Sete Partidas)” é ponto de partida para as recordações da grande maioria do Coliseu e partida para a minha primeira vez com os Sétima Legião – salvo seja. Cada um dos elementos da banda entra à vez, recebendo, cada um, um merecido aplauso de boas-vindas. A recepção de Lisboa e dos que àquele espaço se dirigiram não poderia ser maior e é contagiante. Céptico que sou – por ter apenas contacto com a música – também me deixo levar pelo entusiasmo, mas contenho-o. O calor já se sente no Coliseu e a Legião é o combustível.
O
primeiro momento em que o peso da idade não se nota na voz de Pedro
Oliveira traduz-se em "Noutro Lugar", seguramente um tema do Top 4 dos
Sétima Legião – embora o peso da memória se note
pelo pouco ensaio das letras. Sem problemas de maior, o público vai
ajudando.
Mas arrancar a plateia da cadeira parece ser mais difícil do que se
imagina. Os
aplausos são fartos e enormes, porém só em “Sete Mares” é que os crentes
se
levantam. Bastam alguns segundos dos sintetizadores desta música para
que
metade do público se levante. A outra metade demora a compreender a
‘cena’
e lá se levantam assim que Pedro Oliveira recorda que «tem mil anos uma
história…». Começa a festa, com folia e fole. É nesta ocasião que vejo a
fibra
do público presente. O cabelo branco ou pintado é dono da grande maioria
da
plateia, de 30/40 anos. Um ou outro ‘barbas brancas’, com mais de 50,
ainda vai
pontuando a sala. Todavia, estranho dois personagens que se levantam no
meio da
multidão. Góticos não me parecem – o que ainda se adequava à ocasião. As
t-shirts têm estampas a mais, eles têm muitas tatuagens, pouca
maquilhagem e a
alegria apoderou-se deles. Só podem ser metaleiros! Estranho, mas
curioso. E
não, eles não estão aqui por acaso. Eles cantam em voz alta a canção
emblemática dos Sétima Legião! Dois fãs do headbanging a portarem-se
como
meninos de um qualquer clube de fãs. Felizes. A cantar. A bater palmas. E
a saltar.
No palco, a
festa continua. Surgem gaitas-de-foles. Muitas. E mais uns bombos. A festa está
para durar noite fora, pelo menos na intenção do público que tem sede de mais.
A cada nova música, de tom mais contemplativo ou de tom mais festivo, os
aplausos agradecem com estrondo. Sem que muitos notem, Rodrigo Leão, no baixo
ou nas teclas, troca o seu instrumento de cordas pelo de Pedro Oliveira. O
primeiro fica com uma guitarra para destros, com a qual lá se entende, e o
segundo com um baixo para esquerdinos, com o qual também se entrosa. Tudo corre
bem e com alguma naturalidade, mas o grande erro técnico da noite bate nos ouvidos.
Uma má entrada dos sintetizadores da mui ouvida “Por Quem Não Esqueci”, dá uma
primeira falsa partida que poderia ter borrado a pintura toda. Num piscar de
olhos é resolvida a questão, e esquecendo o tropeção de há segundos prossegue a
cantada. O fim aproxima-se, e a ilusão dele dá-se.
O público quer
o clímax e batendo palmas e os pés no chão, fazendo tremer literalmente o
Coliseu, pede o encore. De resposta rápida surgem novamente os companheiros da memória
desta noite em palco e é Ricardo Camacho quem toma conta do microfone,
por segundos, para uma justa homenagem. António Sérgio, radialista falecido em
2009, recebe “Glória” como tributo. Música que é o ponto de “Partida” [lado b do
single] de 1983 dos Sétima Legião. De saída novamente, o público é quem manda
agora. A partir daí é arrancado o que a maioria quer: o folclore. Mais dois
encores se ouvem. Sem nada de novo e com um “Sete Mares” apoteótico. A saída do
Coliseu é bem servida, mas com calorias a mais. No final, o único peso é o visual
– os cabelos brancos. Afinal, há uns aninhos que pelo Bairro Alto os Sétima Legião se
escondiam para concertos intimistas. Sem o peso da idade.
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