terça-feira, 15 de maio de 2012

Crónica: Sétima Legião

São 21h45, as luzes apagam-se e o Coliseu enche-se de som - os Sétima Legião entram em palco. Há quarenta e cinco minutos ainda a sala de espectáculos, vazia, aguardava pelo público que começava a dificultar a passagem aos que simplesmente passeavam pela Rua das Portas de Santo Antão. Comecei a notar um padrão na fila de entrada para o concerto. Não foi necessário um grande poder de observação. Eu era, provavelmente, uma das pessoas mais novas que ali estava.

Seria mentira não associar a longevidade da banda à longevidade de quem a ouve. Eu era o mais novo e, como se isso não bastasse, também possivelmente o único que não tinha os êxitos a tentarem fugir-me da boca antes de me entrarem pelos ouvidos. "Com certeza que os conheces, mesmo sem teres consciência disso." diziam-me enquanto tentavam cantarolar algumas dessas mesmas músicas. Eu acenava que sim, uma leve sensação familiar despertava.

As filas adensavam-se, lia-se "esgotado" nos vários posters à entrada do Coliseu e aquele sussurar de vozes antes de um concerto crescia e crescia. A hora que marcava a reunião dos Sétima Legião ganhava ímpeto.

"Suba pela direita, o seu lugar é no terceiro andar, camarote trinta." Assim o fiz. Subi pela direita, degrau a degrau até ao terceiro andar, camarote 30. Olhei para cima, olhei para baixo, cadeiras. Foi a minha segunda surpresa, tendo sido a primeira o "esgotado". Poucos foram os concertos sentados a que assisti no Coliseu (na verdade, só um), e os meus vinte e três anos já tiveram em mãos um considerável número de bilhetes para a sala Lisboeta. "Isto é um concerto sério.", pensei eu.

São 21h45, as luzes apagam-se e o Coliseu enche-se de som - os Sétima Legião entram em palco. Palmas, gritos, assobios ouvem-se quinze minutos após a hora assinalada nos bilhetes, para logo de seguida darem lugar a "Baile das Sete Partidas". A partir daí fez-se, não, tocou-se história. Percebi de imediato que não conhecendo a banda, conhecia-a. Cravadas no inconsciente estavam músicas como "Noutro Lugar", "Sem Ter Quem Amar", "Sete Mares" e "Por Quem Não Esqueci". Não consegui deixar de bater o pé, contagiando a mão direita com um leve bater no joelho, que para a cabeça se alastrou balançando-a.

Foi um concerto de memórias sem lugar, onde a cada música tentava lembrar-me e relembrar-me em que tempo, lugar, as tinha ouvido, com quem e porquê. Olhava em meu redor e via nos outros a mesma sensação nostálgica que os trinta anos de música evocavam.

Não foram os quinze minutos de atraso, não foram os problemas técnicos, muito menos o repetir de "Sete Mares", "Noutro Lugar" e "Por Quem Não Esqueci" que fizeram este concerto menos memorável para os que vêem e ouvem na banda, mais do que um símbolo de portugalidade, memórias. "Isto foi um concerto a sério.", pensei eu. Cumpriu-se a Sétima Legião.

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