A altura de Zé
Pedro dos Xutos & Pontapés é, para mim e desde sempre, resultado de uma perspectiva oblíqua. Literalmente.
Literalmente, porque ao vivo tive sempre de inclinar um pouco a cabeça para o ver, em cima de palco.
A altura de Zé
Pedro dos Xutos & Pontapés é, para mim e desde sempre, a altura de uma
estrela rock. A maior de Portugal e a que o país soube fazer, e muito bem –
sublinhe-se. Porém, a sua altura, enquanto estrela rock, nunca foi desfocada na
minha visão. Passo a explicar. Nunca senti, nestes 22 anos que levo, que Zé
Pedro usufruísse do status daquela
estrela de rock que todos imaginamos, longínqua e inalcançável. Cedo
percebi,
como todos os outros «putos» que o idolatram, que ele é uma pessoa
comum. As
provas são mais que muitas: desde ser considerado “o gajo mais porreiro
do rock
português”, que abraça as velhas e as novas gerações – de capitães
faustos e
pontos negros –, até ao facto de no ano passado ter pago pelos excessos,
de drogas
e de álcool. Ele é, afinal de contas, mortal como eu, como todos nós. A
minha imagem de Zé Pedro
nunca foi desfocada porque são muitos os exemplos de humanidade na sua
vida:
ele foi jornalista musical (“e esta, hein?”), tal como pretendo ser; ele
é
ainda um inocente sonhador no mundo da música, que deseja poder chegar
aos 50
anos de Xutos tal como os Rolling Stones; ele já foi abalado pela morte
de uma
pessoa querida, Marta Ferreira, irmã de Kalu e manager da banda,
desaparecida em 2007; ele é radialista e tem um programa na Radar; ele
gosta apaixonadamente de música - sabe, por exemplo, como se construiu e
congeminou
o punk e o grunge. Enfim, ele é humano como eu, como todos nós.
A
altura de Zé
Pedro dos Xutos & Pontapés é, para mim e desde sempre, tão
profundamente humana que hoje, dia 16 de
Maio de 2012, tive a oportunidade de o cumprimentar, de falar com ele e
de
poder tirar uma foto – da praxe – a seu lado, numa palestra organizada
pela
ETIC. E, numa sala em que poucos centímetros nos separavam, quase
chorei por ver os seus olhos brilharem de emoção quando relatou às
pessoas que ali
se encontravam, mas de olhos postos nos meus, um dos episódios mais
marcantes na
sua vida. Um episódio em que Zé Pedro, o músico, pagou pelos seus
vícios. Um episódio
em que Zé Pedro, a pessoa, teve de receber um transplante de fígado. Um
episódio
em que Zé Pedro, fã de música, quis muito recuperar do transplante a
tempo de poder tocar no festival Optimus Alive, em Julho do ano passado,
e assim poder partilhar os bastidores com Iggy Pop, um dos seus ídolos.
Um episódio
em que Zé Pedro, um comum mortal como qualquer um de nós, chorou assim
que
subiu ao palco e foi recebido com os aplausos de mais de 30 mil pessoas.
Aplausos de boas-vindas, de alívio e aplausos pelo seu regresso ao
combate.
A altura de Zé
Pedro dos Xutos & Pontapés é, para mim e desde sempre, mundana. Embora a sua banda já conte
33 anos, embora ele já conte com 55 e embora faça parte da maior banda de rock
em Portugal, Zé Pedro não tem tiques nem desejos de estrela de rock. Zé Pedro
não é arrogante ou antipático. Zé Pedro não padece da doença do sucesso. Zé
Pedro não é Keith Richards dos Rolling Stones – o seu ídolo de sempre. Zé Pedro
é Zé Pedro, o “gajo mais porreiro do rock ‘n’ rol português” e muito
provavelmente do mundo.
A altura de Zé
Pedro dos Xutos & Pontapés é, para mim e desde sempre, de pura admiração.
A altura de Zé
Pedro dos Xutos & Pontapés é, para mim e na verdade, a mesma que a
minha.
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