sexta-feira, 18 de maio de 2012

O Dia Em Que Quase Chorei Com O Zé Pedro

A altura de Zé Pedro dos Xutos & Pontapés é, para mim e desde sempre, resultado de uma perspectiva oblíqua. Literalmente. Literalmente, porque ao vivo tive sempre de inclinar um pouco a cabeça para o ver, em cima de palco.
A altura de Zé Pedro dos Xutos & Pontapés é, para mim e desde sempre, a altura de uma estrela rock. A maior de Portugal e a que o país soube fazer, e muito bem – sublinhe-se. Porém, a sua altura, enquanto estrela rock, nunca foi desfocada na minha visão. Passo a explicar. Nunca senti, nestes 22 anos que levo, que Zé Pedro usufruísse do status daquela estrela de rock que todos imaginamos, longínqua e inalcançável. Cedo percebi, como todos os outros «putos» que o idolatram, que ele é uma pessoa comum. As provas são mais que muitas: desde ser considerado “o gajo mais porreiro do rock português”, que abraça as velhas e as novas gerações – de capitães faustos e pontos negros –, até ao facto de no ano passado ter pago pelos excessos, de drogas e de álcool. Ele é, afinal de contas, mortal como eu, como todos nós. A minha imagem de Zé Pedro nunca foi desfocada porque são muitos os exemplos de humanidade na sua vida: ele foi jornalista musical (“e esta, hein?”), tal como pretendo ser; ele é ainda um inocente sonhador no mundo da música, que deseja poder chegar aos 50 anos de Xutos tal como os Rolling Stones; ele já foi abalado pela morte de uma pessoa querida, Marta Ferreira, irmã de Kalu e manager da banda, desaparecida em 2007; ele é radialista e tem um programa na Radar; ele gosta apaixonadamente de música - sabe, por exemplo, como se construiu e congeminou o punk e o grunge. Enfim, ele é humano como eu, como todos nós.
A altura de Zé Pedro dos Xutos & Pontapés é, para mim e desde sempre, tão profundamente humana que hoje, dia 16 de Maio de 2012, tive a oportunidade de o cumprimentar, de falar com ele e de poder tirar uma foto – da praxe – a seu lado, numa palestra organizada pela ETIC. E, numa sala em que poucos centímetros nos separavam, quase chorei por ver os seus olhos brilharem de emoção quando relatou às pessoas que ali se encontravam, mas de olhos postos nos meus, um dos episódios mais marcantes na sua vida. Um episódio em que Zé Pedro, o músico, pagou pelos seus vícios. Um episódio em que Zé Pedro, a pessoa, teve de receber um transplante de fígado. Um episódio em que Zé Pedro, fã de música, quis muito recuperar do transplante a tempo de poder tocar no festival Optimus Alive, em Julho do ano passado, e assim poder partilhar os bastidores com Iggy Pop, um dos seus ídolos. Um episódio em que Zé Pedro, um comum mortal como qualquer um de nós, chorou assim que subiu ao palco e foi recebido com os aplausos de mais de 30 mil pessoas. Aplausos de boas-vindas, de alívio e aplausos pelo seu regresso ao combate.
A altura de Zé Pedro dos Xutos & Pontapés é, para mim e desde sempre, mundana. Embora a sua banda já conte 33 anos, embora ele já conte com 55 e embora faça parte da maior banda de rock em Portugal, Zé Pedro não tem tiques nem desejos de estrela de rock. Zé Pedro não é arrogante ou antipático. Zé Pedro não padece da doença do sucesso. Zé Pedro não é Keith Richards dos Rolling Stones – o seu ídolo de sempre. Zé Pedro é Zé Pedro, o “gajo mais porreiro do rock ‘n’ rol português” e muito provavelmente do mundo.
A altura de Zé Pedro dos Xutos & Pontapés é, para mim e desde sempre, de pura admiração.
A altura de Zé Pedro dos Xutos & Pontapés é, para mim e na verdade, a mesma que a minha.

Sem comentários:

Enviar um comentário