segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Crónica: Uma Surpresa Chamada Hindi Zahra

São coisas assim que nos fazem perceber que estamos no lugar certo, à hora certa. Teria bastado o facto de estar na primeira - e tão esperada - aula de História da Música e ter o prazer de conhecer um profissional cujo trabalho sempre admirei, agora tornado meu professor para os próximos meses. Pois a estes ingredientes juntou-se uma surpresa, em jeito de desafio, lançado pelo Rui Miguel Abreu: "Querem terminar a aula a assistir a um concerto?". Se a minha voz interna fosse amplificada naquele instante, ter-se-ia ouvido um "WOW!" bem exclamado.

A noite estava mesmo "condenada" à surpresa e à novidade: o destino era o TMN Ao Vivo, uma das salas de espectáculo mais recentes da cidade, onde eu nunca tinha entrado; a artista que íamos ver dava pelo nome de Hindi Zahra, totalmente desconhecida ao meu ouvido.

Chegados ao local, fui-me ambientando e observando o palco já montado, as pessoas que chegavam, a amplitude de todo aquele espaço, o privilégio de ter o Tejo a escassos metros, Lisboa é cidade que se canta tão bem.

Logo as luzes baixaram, Hindi Zahra entrou em palco, deste lado a curiosidade era muita. Primeiro momento: apenas voz e guitarra, uma melodia suave, calor e conforto - como uma canção de embalar. Um início feliz, como que a convidar os presentes a deixar para trás o longo dia de trabalho (era uma quarta-feira) e as preocupações rotineiras, que iam ficando cada vez mais pequenas. À segunda música, no som e na palavra sentia-se uma declaração de amor. Dei por mim com um sorriso estampado na cara, aquele que temos quando nos sentimos apaixonados. Estava conquistado, portanto.


Na hora e meia que se seguiram, Hindi Zahra e sua banda serviram-nos as canções de Handmade (álbum de estreia editado em 2010 pela Blue Note), pratos exóticos de temperos ocidentais e norte-africanos, entre o jazz e a música berbere, o rock e a soul, a pop e a folk.

Uma fusão que vem incorporada na própria autora de 32 anos: nascida e criada em Marrocos, passando a viver em Paris desde os 15, Hindi Zahra é multi-instrumentalista auto-didacta e dona de uma voz jazzística ("the new Billie Holiday", escreveu a The Wire); em palco, emana o carisma de uma rock star, a sensualidade misteriosa de uma Sherazade, a alegria e espontaneidade de uma artista que está ali pelo amor à música. O público sentiu isso e deixou-se entregar aos momentos de paixão e amor, melancolia e alegria, tradição e fusão, separação e união, introspecção e celebração, emoções e estados de alma tão bem executados por Zahra e cada um dos músicos que a acompanharam.

Teria bastado terminar a aula exactamente na mesma sala onde a começámos, mas acabei por trazer comigo esta experiência (tão agradável quanto inesperada) e o gosto de uma nova descoberta, para ouvir em muitas ocasiões futuras.

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