segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Crítica: Motorama - "Alps"


Independente, 2010

Uma agradável surpresa do lugar mais improvável do nosso imaginário.
Para os que volta e meia não sobrevivem sem respirar o oxigénio pós-punk e new wave dos finais de 70, inícios de 80, guardando religiosamente no interior do guarda roupa o poster de Ian Curtis. A 'New Order' do momento é apresentada pelo quinteto russo Motorama, com o seu primeiro disco de longa duração Alps.
Do começo algo tímido de “Northern Seaside”, bem que podemos fechar os olhos como primeiro exercício e na voz forte de Vladislav Parshin, imaginar logo o jovem Ian a cantar na actualidade sobre algum “Fake Empire” dos National. Isto claro está, se no presente exercício, o próprio Matt Berninger também se distanciasse assim tanto de tal imaginação. Um verdadeiro "hello little friend" para os nossos ouvidos, bem ao jeito de como a banda quebra o "gelo russo" na mensagem de apresentação da sua página oficial.
Apresentações passadas, pequenas amizades feitas, para se ligarem os sintetizadores e os teclados de "Warm Eyelids", ou o baixo que não toca assim tão 'baixo' de "Compass". A caminhada rítmica rumo a um trajecto linear pela restante composição do álbum. A guitarra respeita a melodia, não 'chateia' em tempo algum e a bateria que vai acompanhando o baixo destacado, ou o tom de voz que enche a sala, lá nos faz bater o pé aqui e ali. Formam o conjunto perfeito, para o que tanto podia ser um 'beat' de música electrónica em "Letter Home", ou apenas uma sessão de relaxamento respirando o ar gélido da travessia de "Ship".
O som ganha mais expressão, quando ouvimos falar no amor que 'separar-nos-á' em "Ghost", ou que todos nós caímos de joelhos em "Alps", sobre as referências à natureza de "Wind In Her Hair", uma constante em todo o álbum.
Alps é gelado de uma forma suave. É aquele disco que toca do início ao fim decorado por pormenores. É uma visão actual cheia de boas influências do que já se viu 'lá atrás', com um toque mais pop sempre que é necessário descomprimir da herança crua dos Joy Division, ou não se pretende ser tão sóbrio como os Interpol. É uma visão limpa e natural sobre a agradável surpresa do lugar mais improvável do nosso imaginário.
4/5

3 comentários:

  1. Bom texto, Hugo! Tem uma particularidade de que gosto muito: fazer-nos "ouvir" um disco, através das palavras. Fiquei com vontade de ouvi-lo, essa é que é essa!

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  2. Só um "pequeno" reparo: já viste o que acontece ao texto a partir da tracklist? isso é que é dar espaço para as palavras respirarem, ó Hugo... LOL

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  3. Muito Obrigado Rui!!! Ouve que não te vais arrepender. É daqueles que toca na aparelhagem sem-se dar conta, mas que na realidade sabes que está sempre lá. Lol podes crer, já estava com um bocado de falta de oxigénio a essa altura =) Mas não sei pq é que ficou com esta disposição... eu preciso de mais uma aula sobre partilha em blogues, mas desta feita tenho que escrever, se não vou dar muito trabalho ao chefe de redacção lool =)

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