Matador, 2010Mais difícil que pensarmos sobre sentimentos que nos perturbam, é relatá-los. Mais difícil que os relatar, é fazê-lo de uma forma tão sincera. É de sinceridade e de relatos de sentimentos perturbadores que se contextualiza “Learning” de Perfect Genius.O diário de vida do artista solo de Seattle, Mike Handreas. Um caderno de folhas limpas, que vai ganhando contornos de amargura e dissabor a cada palavra que despe a visão profunda de um rapaz de 26 anos.A voz de timbre subtil, sobre a linha melódica de um piano, marca a harmonia sonora assente na desolação do ser. Fala de morte, solidão e conflitos emocionais numa linguagem simples, como se existisse alguma simplicidade em sentimentos tão complexos.Conta experiências que moravam num quarto vazio, com a densidade necessária para se sentir que “no one hear all your crying, until you take your last breath” em “Learning”. Aprende-se com Mike Handreas o que este aprendeu com “Mr. Petersen”, “he made me a tape of Joy Division, he told a part of him missing, when i was sixteen, he jumped off a buildyng”. Sai-se do quarto isolado, esquece-se o homem no piano na dimensão instrumental de “Gay Angels”, “No Problem”, ou “Never Did”, que tão bem faz lembrar o eco ambiental de Sigur Rós. As letras que se escondem na textura de um piano em “You Won’t Be Here”, descobre-se que afinal Bon Iver não escreve somente para a Emma e que os Beirut fazem música elegante. E a fragilidade emocional de “Lookout Lookout”, fecha-se as portas para o mundo e sente-se a insegurança da voz que sussurra “there are murders about”.Excepcionalmente emotivo e genialmente desolador. Learning podia ser a carta de despedida de Mike Handreas, mas é o seu álbum de estreia. Vê-lo é como um filme de final inesperado, que deixa as pessoas incrédulas à saída do cinema. Ouvi-lo pode ser o “Perfume” de um estado de espírito, na personificação “Genius” de uma alma.4/5
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