segunda-feira, 5 de março de 2012

Crítica: Sharon Van Etten - "Tramp"


Jagjaguwar/Popstock, 2012
Comecemos por despachar os convidados deste disco para perceber que "vagabundo" é este que se ouve neste longa-duração. Beirut. Aoron Dessner (The National), um dos produtores do álbum, juntamente com a própria Sharon Van Etten. Jenn Wasner, guitarrista e vocalista dos Wye Oak (projecto folk). Julianna Barwick, artista de música ambiente no segredo dos deuses. Matt Barrick dos Walkmen e Thomas 'Doveman' Bartlett, um dos colaboradores mais frequentes dos National. E, agora, as apresentações. Sharon Van Etten é uma cantautora nova-iorquina que, não fosse a sua biografia, apostávamos que teria nascido perto de um bosque, ou pelo menos perto de um jardim meio sombrio. Tramp é a terceira viagem - em disco - da cantora de indie folk rock, que já conta com uma carreira demarcada e discreta - sublinhe-se - nas lides musicais.

Sereno, quente, intenso, familiar e despretensioso. Este disco vádio, que nos invade a alma e o corpo sem que nada o faça prever, confronta e coloca-nos uma série de referências na cabeça. Para além da ilustre palete de nobres convidados que este trabalho acerca, as primeiras imagens que surgem na mente são: a inocência dos Beirut (sendo o mentor do projeto um dos convidados) e o arrojo/raridade de PJ Harvey.
Embora o teor dos convidados diga muito sobre o disco, Sharon demonstra uma visão muito própria na sua música. Aqui somos confrontados, primeiro, com a electricidade. "Warsaw" abre perfeitamente o disco, embora se destaque também "Serpents" - a que mais se apróxima do universo de Polly Jean -, a esperançosa "All I Can", a q.b. psicadélica "I'm Wrong" e a jazzística "Magic Chords". E só depois, se dividirmos a coisa em dois lados, somos confrontados com a singularidade da folk e das singelas canções de bolso, onde, aliás, está toda a essência do disco. "Kevin's" e "Leonard" são as que mais encantam, mas é no fim que nos rendemos totalmente. "Joke Or A Lie" é a despedida doce, e já saudosa, para uma artista que urge ouvir. Nunca com urgência da pop mas com a emergência da boa música. A música de hoje com memória de ontem.
4/5

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