segunda-feira, 5 de março de 2012

Crítica: Sharon Van Etten - "Tramp"

Jagjaguwar/Popstock, 2012
4/5
Chegou no passado mês de Fevereiro às lojas o terceiro disco de Sharon Van Etten. Apesar dos seus antecessores terem recolhido o apoio e aclamação de algumas instituições da crítica musical, este Tramp agora lançado atinge um consenso mais alargado. Procura-se neste texto perceber o que ainda há de excitante e constitui novidade na folk norte-americana.
Empurrada para a música por Kip Malone dos TV On The Radio e com participações em discos dos The Antlers e The National, Sharon Van Etten convoca para Tramp uma lista de convidados de renome, a saber: Aaron Dessner dos The National, também a cargo da produção do disco, Matt Barrick dos The Walkmen, Julianna Barwick, nome importante da música ambiente, e Zach Condon dos Beirut, entre outros. Não deixe que os convidados-estrela o confundam: se Tramp é o disco que é, deve-o, principalmente, a Sharon Van Etten - ainda que os músicos convidados tragam, naturalmente, o seu cunho pessoal ao disco.
A atmosfera sonora, ainda que por vezes eléctrica, carrega uma melancolia armada, mais do que pela instrumentação, pela voz de Sharon. "In Line" tem potencial para se tornar na música mais depressiva que alguma vez ouviu. Estando em Portugal, deverá compreender o processo que leva este quase "coitadismo" a ser elevado a arte. Se há um estilo de música que pode ser comparado a Tramp, para lá das fronteiras da sonoridade da folk americana, esse estilo é o Fado.
Com Sharon Van Etten aprendemos que, apesar da sua história, a folk também pode ser pessoal. Há poucos dias ouvi da boca de um músico as seguintes palavras: "hoje em dia é quase impossível inovar em termos de som, o que se pode levar de novo para a música é a própria pessoa e a sua história de vida". A clarividência destas palavras assenta que nem uma luva em Tramp: não inovando em termos de som, Sharon Van Etten entrega às canções a sua experiência de vida. O resultado dificilmente poderia ser melhor e dá o tiro de partida, ainda que ao terceiro disco, para uma carreira a seguir de perto.

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