quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Crónica: O Bom, O Mau E O Hype

Texto publicado originalmente na edição n.º 840 do Jornal O Povo do Cartaxo, dia 16 de Dezembro de 2011.
Dois mil e doze chegou e, apesar de quase todas as maiores publicações já o terem feito, é chegado o momento do Ruído Alternativo revelar os seus 45 eleitos internacionais e 15 nacionais para melhor disco do ano. Decidimos fazê-lo, desde sempre, após do final do ano para não passarmos ao lado de nenhum lançamento do ano musical, algo que os que publicam a sua lista em Novembro não se podem orgulhar. O público em geral não dá a mínima atenção a estas listas, mas nós, os cromos que gostam de música, levamos a coisa muito a sério. De tal forma que todos queremos dar a nossa opinião e fazer a nossa própria lista, nem que seja para guardá-la só para nós. Teoricamente, com tantas listas publicadas em grandes instituições da imprensa nacional, internacional ou até em blogues de culto ou nem tanto, seria de esperar uma diversidade absurda de nomes. Não é bem isso que acontece.
Nos primeiros contactos que tive com este tipo de listas até fiquei algo surpreendido com as parecenças entre todas estas famosas listas. Arrisco a dizer que, nas publicações que se dizem generalistas, este ano chegamos ao ridículo de mais de 80% dos artistas se repetirem em todas as tabelas, estando apenas trocadas as posições em que são colocados. Claro que vão sempre havendo surpresas, mas na generalidade os nomes vão sendo os mesmos. Mas nem as publicações especializadas em determinados estilos de música estão a salvo desta generalização de escolhas. Veja-se o caso do heavy metal: há dois anos as revistas dedicadas a este género colocavam nas suas listas de melhores do ano dezenas de bandas de sludge e pós-metal (perdoem-me se vos estou a aborrecer), enquanto hoje o black metal europeu é rei neste tipo de listas.
Chego à conclusão que todas as publicações baseiam as suas escolhas principalmente em modas. A Pitchfork será, por ventura, um dos melhores exemplos para explicar o fenómeno que enuncio ao longo deste artigo. Trata-se de uma referência absoluta para qualquer melómano que se preze, mas, tal como a Wikipedia, devemos tomar precauções ao utilizá-la – embora tenha acontecido uma melhoria significativa nos últimos anos. O facto é que a Pitchfork não gosta de artistas estabelecidos que ainda não tenham dado por terminada a carreira. Tudo o que é novo e refrescante é que é bom, pelo menos no momento.
Embora não esteja completamente imune a este fenómeno, a cultura do mastiga e deita fora nunca me atraiu, como já fui deixando perceber desde que iniciámos este espaço n’ O Povo do Cartaxo. Nunca fui de modas: decidi ser do Benfica nos anos mais difíceis do clube; enquanto todos torciam por Schumacher, eu gostava era de Raikkonen e Webber; enquanto todos ouviam a Rádio Cidade eu ouvia a Antena 1.
Num ponto acho que estamos todos de acordo: algo que perdure no tempo é sempre melhor que um fenómeno passageiro. Fazendo um conveniente paralelismo, na música passa-se exactamente o mesmo que nos carros. Hoje todos querem salvar o planeta com o Toyota Prius, enquanto o pequeno Smart já é uma lembrança embaraçosa do passado. Eventualmente, a humanidade fartar-se-á do Prius quando descobrir que este não é assim tão ecológico e até é bastante feio. Eu continuo no meu veículo com quase 14 anos, a caminhar para clássico, sem me preocupar com as modas, pois sei que nunca falhará.
Não pretendo fazer deste artigo uma espécie de ode ao glorioso passado (sem rimas, claro), apenas alertar para o excessivo histerismo à volta de tudo o que é novo. Caso não haja esta cautela, a vossa nova banda alternative-post-pop-folk-indie-metal pode tornar-se num novo Smart na vossa vida.

1 comentário:

  1. Boa crónica André!!! =)
    Concordo plenamente e ainda alerto para um pormenor que a mim me parece preocupante e que até parece que me vai fazendo "deixar" de gostar de alguma música. Além dos fenómenos passageiros, temos na mesma linha a "não ter em conta", outro fenómeno com nomes que já andavam no mercado e que volta e meia aterra-lhes algum "génio da lâmpada" em cima e tornam-se "bandas da moda". Não temos que conhecer todos os nomes, também não me coloco no lado dos "inimigos do mainstream"... os "alternativos" sempre foram uma minoria, mas realmente chateia-me um bocadinho quando isto acontece, até porque na maioria das vezes, nem se traduz na melhor fase das mesmas. Mas pronto, viva os mercados e a "massificação da coisa"!!! =)

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